Quais são os animais mais dorminhocos do mundo? Uma dica: não é a preguiça

11/11/2015 22:23

Alamy

Preguiças dormem 40% do tempo. Mas não são as campeãs da soneca...
 

Animais dormem das mais diferentes maneiras. Estamos acostumados à ideia de que o sono é um estado passivo, quando um animal não se mexe muito e seus músculos relaxam. Mas isso não é uma lei: alguns, pássaros, por exemplo, voam durante “cochilos”, usando apenas metade de seus cérebros.

“Para os animais, o sono ajuda a ficar mais eficiente”, explica Jerome Siegel, diretor do Centro de Estudos do Sono da Universidade da Califórnia.

Alguns animais, obviamente, dormem mais que outros, e Siegel explica que isso se deve principalmente à quantidade de alimento ingerido. “Animais que consumem alimentos de baixa densidade calórica dormem menos, ainda que o sono possa ser ajustado de acordo com as necessidades do animal.”

Leões 'oportunistas'

Em geral, herbívoros dormem menos que carnívoros porque precisam passar mais tempo mastigando para tirar energia de sua comida. Em especial animais pastores maiores, como girafas. Nos anos 70, cientistas descobriram que esses mamíferos só entravam em estado de sono profundo durante 5 a 30 minutos por dia.

Essa “insônia” também pode ser atribuída a um mecanismo de defesa. “O sono reduzido em animais mais vulneráveis pode ser uma adaptação para aumentar a vigilância contra predadores”, diz John Lesku, da Universidade La Trobe, em Melbourne (Austrália).

Já os predadores podem passar menos tempo “olhando sobre os ombros”, especialmente os que vivem em bandos. Leões, por exemplo, são famosos pelo hábito de ficarem deitados por grande parte do dia. Em cativeiro, dormem pelo menos de 10 a 15 horas diárias.

AP

Em cativeiro, leões dormem bem mais, por não precisarem estar atentos a "janelas" de caça

Mas, em vez de dormir isso tudo de uma vez, leões são “oportunistas” no que diz respeito ao sono. Dormem em “tiros curtos” e, segundo Siegel, isso é uma forma de não perder a chance de uma refeição.

“Um animal faminto precisa dormir menos se há comida disponível e mais se não há.”

É preciso notar que cientistas têm dificuldades em medir com mais precisão os hábitos de sono de animais selvagens, especialmente para localizá-los.

Tatus, por exemplo, aparecem nas listas de animais “dorminhocos” como capazes de dormir 18 horas por dia em suas tocas subterrâneas. Mas não há evidência de que eles passem esse tempo todo em sono profundo.

“Na verdade, desconfiamos que os tatus também se alimentem enquanto dormem, já que geralmente suas tocas ficam próximas a cupinzeiros”, explica Arnaud Desbiez, coordenador de um estudo especial sobre a espécie.

Quando cientistas encontram os animais, a postura normalmente é a chave para descobrir se o bicho está ou não dormindo.

Girafas, por exemplo, repousam suas cabeças em suas costas. Coalas, por sua vez, dormem abraçados a galhos e, aparentemente, estão acordados apenas duas horas por dia.

NPLEm suas tocas, tatus nem sempre podem estar dormindo

De acordo com estudos na Austrália, o principal habitat deste tipo de urso, coalas dormem por pelo menos 14 horas por dia e passam outras cinco descansando. Tudo por conta de sua dieta de folhas de eucalipto, que demoram a serem digeridas e oferecem pouca energia.

 

Em 2013, cientistas implantaram sensores em coalas para tentar medir sua atividade, mas os dispositivos não eram sensíveis o suficiente para diferenciar o descanso do sono.

A maneira de medir com precisão é analisando os impulsos elétricos emitidos pelo cérebro, com o auxílio de eletroencefalógrafos. Sendo assim, os mais detalhados dados sobre o sono nos animais vêm de espécimes cativos.

De acordo com Lesku, o atual recordista mundial do sono é o tatu cabeludo gigante (20,4 horas/dia) e o rato do deserto americano (20,1).

Mas esses índices precisam ser tratados com precaução. “Estamos falando de animais selvagens trazidos para um ambiente de laboratório e analisados em um outro contexto em que, por exemplo, havia comida disponível”, alerta o pesquisador.

Um exemplo disso é o morcego-marrom, que em testes realizados em 1969 ganhou o título de animal mais dorminhoco, marcando 19,9 horas de sono em um período de 24.

No entanto, o morcego estava ligado a um computador, em vez de pendurado no teto de uma caverna, o habitat desses animais. E também havia diferenças de temperatura.

“Minha opinião é de que esse morcego estava comprometido e não representava um espécime selvagem”, diz Lesku.

Na verdade, poderia nem sequer estar dormindo e sim em um estado conhecido como extremo torpor – um tipo de hibernação.

Alguns animais entram nesse estado diariamente. O guaxinim e alguns tipos de roedores nos EUA podem ficar 14 horas diárias assim.

O torpor difere do sono de forma fundamental. É um tipo de dormência: o metabolismo e a temperatura corporal baixam substancialmente, bem como a atividade cerebral. Tudo para conservar energia.

Ironicamente, o principal teste de atividade cerebral de animais durante o sono foi feito justamente com... preguiças. Em cativeiro, esses mamíferos podem dormir até 15 horas por dia, mas um estudo de 2008 revelou que as preguiças selvagens dormem muito menos.

Preguiças panamenhas ganharam microchips e cientistas descobriram que elas dormiam menos de 10 horas. Isso é parecido com leões e bem menos que coalas, por exemplo.

Ainda assim, 40% do dia é um índice considerável de sono para um animal que apenas come folhas e frutas e que é lento o suficiente para ser presa para felinos e aves de rapina.

Uma explicação para isso é que as preguiças – aliás, nem tão preguiçosas assim – evoluíram para um tipo de camuflagem e um comportamento propositalmente discreto. A reputação de dorminhocas, porém, é injusta.

Por Victor Simão - DA REDAÇÃO BBC BRASIL

—————

Voltar